sexta-feira, 29 de novembro de 2013

RESENHA NOSTÁLGICA: NOSFERATU - UMA SINFONIA DE HORROR


Direção: F.W.Murnau
Gênero: Terror
Duração: 85 min.(com variações de edição)

Ano: 1922

Primeiro filme sobre vampiros permanece clássico e inesquecível

Embora Bram Stoker não tenha sido o precursor do vampirismo na literatura, é inegável que foi o seu famoso romance “Drácula” que universalizou, por assim dizer, a figura popular do vampiro, que seria mais tarde abordada incansavelmente, não apenas no papel, mas nas telas também. Coube ao cineasta alemão F. W. Murnau a primeira adaptação da obra de Stoker no longínquo ano de 1922; adaptação essa que é considerada icônica e a melhor de todos os tempos, não necessariamente no quesito fidelidade à obra (até porque os direitos autorais não cedidos impediram um aproveitamento maior da história), mas em relação à própria abordagem do vampirismo no cinema.
         Utilizando-se com inteligência e perícia dos poucos recursos disponíveis para seu tempo, Murnau conseguiu a façanha ímpar de criar todo um universo sombrio, que equilibra tons de sombra e luz bem ao estilo expressionista, em voga na época. De fato, o clima gótico da obra de Stoker é referenciado constantemente nesse jogo de claro/escuro que alterna momentos de tensão e melancolia com maestria, se levarmos em conta o fato de que esta é ainda uma produção em preto e branco, bastante “tosca” para os padrões cinematográficos evoluídos de hoje em dia. Ainda assim, tamanho é o poder de “Nosferatu” que é impossível ficar indiferente às imagens e cenas construídas na justaposição da luz como, por exemplo, no momento em que a sombra ameaçadora do vampiro, esgueirando-se pela parede, aproxima-se da mulher cujo sangue ele precisa provar.
         A representação do vampiro encarnado por Max Schrek é, com certeza, uma das mais célebres e assustadoras já vistas: careca, curvado, com dentes pontiagudos e projetados para fora da boca, unhas compridas e sobrancelhas espessas; visualmente repulsivo, Schrek adiciona à sua imagem uma interpretação inspirada, onde suas expressões faciais, oscilando entre a malignidade e a tristeza, conferem ao personagem a essência do Drácula do livro. Essas variações na expressividade dos personagens são de fundamental importância no desenrolar do filme, uma vez que não há diálogos – é um filme mudo. Assim, como nas obras de Chaplin, é a linguagem gestual/facial que determina a intensidade de sentimentos, sensações e anseios dos personagens, aqui convenientemente transmitidos e captados por Murnau.

         Por fim, há que se destacar a excelente e tétrica trilha sonora de Hans Erdmann, que preenche a projeção com seus tons sombrios, sempre deixando subentendido que algo está prestes a acontecer, mantendo o espectador em crescente – mas, receosa – expectativa. A música do filme justifica com perfeição o subtítulo de “Eyne Symphonie des Grauens”; de fato, é uma sinfonia de horror magistral.


Conceito: Excelente
Nota: 10,0



O filme “Nosferatu” está disponível online no Youtube, NESTE LINK. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Resenha: Thor - O Mundo Sombrio





Era difícil imaginar anos atrás que fosse possível levar os quadrinhos aos cinemas com tamanha propriedade, e principalmente munidos de pontos satisfatórios para nerds e para um público em geral. Mais uma vez, a Marvel Studios mostra não somente ser viável, como entrega em Thor – O Mundo Sombrio uma de suas melhores produções. O estúdio mostra ter aprendido com os erros do seu antecessor e não teme em largar a mão naquilo que a fez ganhar um lugar cativo em seus lançamentos cinematográficos: a essência caricata dos quadrinhos.
O novo filme do Deus do Trovão passeia literalmente por diversas referências. Indo dos próprios quadrinhos até a cultura pop em geral sem medo de ser feliz.  Aqui, Asgard aparece mais detalhada que no primeiro filme, com detalhes fantásticos e ao mesmo tempo semelhantes com outras conhecidas produções – O Senhor dos Anéis, principalmente. As cenas na Terra também ganham uma atenção especial, resultando em algo bem distante do enfadonho tempo gasto na primeira aventura. Certamente o estúdio merece elogios pela escolha de Alan Taylor (da série Game of Thrones) como diretor.
A trama situa-se após os eventos vistos em Os Vingadores, com Loki (Tom Hiddleston) sendo preso e Thor (Chris Hemsworth) buscando a paz entre Os Nove Reinos. Prestes a tornar-se o próximo rei de Asgard, eis que surge a ameaça de Malekith, O Maldito (Christopher Eccleston), rei dos Elfos Negros que retornou para buscar vingança contra os asgardianos. Seja pela trama ou pelos novos personagens apresentados, o novo Thor mostra-se melhor em praticamente tudo se comparado com o primeiro. Existe espaço para belas cenas e as atuações de Eccleston e Hiddleston, definitivamente são um show à parte. Hiddleston mostra mais uma vez os motivos que levam Loki a ser tão adorado pelos cinéfilos, e mesmo os fãs com históricos de quadrinhos rendem-se ao talento do ator. O mesmo já não pode ser dito sobre Natalie Portman, que carrega sua Jane Foster mais como uma presença obrigatória do que necessariamente por sua relevância em um todo. Aliás, talvez o maior ponto negativo da produção sejam justamente os momentos em que a personagem aparece (o modo como “coincidentemente” se mete no problema provoca vergonha alheia). 

Entretanto, o resultado final de Thor – O Mundo Sombrio é a comprovação ainda maior do amadurecimento da franquia e a certeza que a Marvel trabalha firme para estabelecer o seu Universo nos cinemas com o mesmo empenho demonstrado nos quadrinhos durante décadas, e a cena durante os créditos que mostra um vislumbre de Os Guardiões da Galáxia é mais um futuro motivo para tamanho interesse.


Resenha gentilmente cedida por Guilherme Moreira Jr., originalmente publicada em seu site: "Mirando no Cinema" .



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crítica: A Morte do Demônio



Direção: Fede Alvarez
Gênero: Terror
Duração: 91 min.
Ano: 2013


Remake de clássico trash peca pela seriedade excessiva

No longínquo ano de 1981, Sam Raimi era um cineasta amador, sem muitos recursos financeiros, mas, ainda assim, decidiu realizar uma obra de horror que conseguisse impressionar o público com a crueza de suas cenas. De fato, com “The Evil Dead”, conhecido no Brasil como “Uma noite alucinante: A morte do demônio”, Raimi deixou seu nome no rol dos criadores dos maiores clássicos do gênero. Considerado exageradamente violento para a época, o filme abusava do uso de secreções, mutilações e outras escatologias, tudo de forma tosca. Isto foi razão suficiente para que o mesmo fosse censurado em alguns países, o que não impediu que o longa se tornasse um Cult, uma lenda do horror.
Era previsível que mais cedo ou mais tarde, seguindo a onda de falta de originalidade hollywoodiana, “The Evil Dead” ganhasse um remake; na verdade, o que é de estranhar é que ele não tenha sido feito mais cedo, se bem que o resultado final explica, involuntariamente, porque isto não aconteceu. A refilmagem, dirigida pelo pouco conhecido Fede Alvarez, com produção do próprio Raimi fica muito aquém do original. Embora seja “agradavelmente” sangrento e muito superior ao filme de 1981 em questão de efeitos visuais (isto é mais que óbvio para qualquer filme atual, em relação aos antigos), o novo “A morte do demônio” não consegue o mesmo feito nos quesitos enredo e desenvolvimento dos personagens.
Na nova trama, temos o grupo de jovens que vai a uma cabana isolada numa floresta – situação mais clichê de um terror teen -, desta vez para ajudar na reabilitação de uma amiga envolvida em drogas. Chegando lá, um dos jovens, que por acaso é o nerd, encontra o famigerado Livro dos Mortos e, apesar das advertências, acaba evocando as forças malignas adormecidas. A partir daí, o horror toma conta da tela até o final da projeção, que culmina com uma literal chuva de sangue.  Dito assim, parece que “A morte do demônio” (Evil Dead, sem o artigo “The” do original) irá satisfazer os fãs de gore; de fato, é provável que sim. Alvarez não economiza nas cenas grotescas de violência explícita, que são, com certeza, surpreendentes e realistas ao extremo. Houve todo o cuidado de deixar tais cenas chocantes, sem o artificialismo evidente da computação gráfica, quase imperceptível aqui. O problema, no entanto, é que o filme destaca demais a violência e negligencia o roteiro e a evolução da história que pretende contar. Assim, o que se vê é um filme que, excluídas as cenas de horror propriamente dito, fica muito raso em sua estrutura, equivalendo a mais um terror genérico para adolescentes.
É interessante observar que, no filme original, o roteiro era muito pior, sem nenhuma profundidade, já que o foco era mesmo o trash. Porém, naquele filme havia a intencionalidade de abordar outros recursos, que, de certa forma, eclipsavam o script e direcionavam a atenção para elementos como as tomadas inteligentes, a câmera subjetiva (icônica no trabalho de Raimi) e o humor negro, muitas vezes escrachado. Isto garantia uma diversão “multiangular”, uma vez que a cena podia ser captada em diferentes perspectivas que se interligavam. No novo filme, intencionalmente ou não, qualquer vestígio de humor foi suprimido, o que tornou a produção muito pesada em seu clima; não há piadas, nem situações cômicas que façam o espectador se inserir naquele ambiente antes de o sangue começar a jorrar. É tudo tão sério e frio que o espectador se sente totalmente de fora da história, como se tivesse permissão apenas para ver, sem poder ao menos conhecer os personagens o suficiente para ter empatia por algum deles.
Obviamente, um filme de terror, como qualquer outro, pode sim ser sério e sombrio; entretanto, para isso é essencial que o roteiro permita tal abordagem, o que definitivamente não acontece com “A morte do demônio”. O filme insiste em querer ser levado a sério, mesmo com uma história clichê e batida que se encaixaria muito melhor no humor, e ainda assim ficaria discutível.
Contudo, alguns elementos de “A morte do demônio” merecem atenção; a fim de fazer o clima ficar aterrador, a fotografia sombria contribuiu bastante, assim como os efeitos sonoros de algumas cenas: o barulho da chuva, a respiração estertorada dos indivíduos possuídos, os instantes clássicos de silêncio que precedem os sustos, etc. Outro destaque é a interpretação de Jane Levy como Mia, a jovem abstinente, a primeira a sofrer os efeitos malignos do Livro dos Mortos. Não é exagero dizer que as expressões faciais e os sussurros dela ao começar a ficar perturbada são mais assustadores que a própria possessão posterior que ela sofre.

Avaliando, por fim, o horror visual do filme – seu ponto forte – um aspecto que chama a atenção é que ele seja quase que exclusivamente um espetáculo de sadismo feminino; note-se que as cenas mais intensas e chocantes são de mortes de mulheres, todas precedidas por alguma mutilação horrível: a moça que corta o braço, a outra que corta a boca (?) e, a melhor de todas, a moça possuída que corta a língua. Tudo é mostrado com o máximo de detalhes sangrentos, e pelo menos nisso os fãs do original irão se deliciar. Também é provável que gostem de algumas homenagens prestadas diretamente ao filme de 81: a já mencionada câmera subjetiva que corre pela floresta, acompanhada do ruído característico e o contraditório estupro de uma das moças por uma árvore possuída. Porém, é difícil crer que o clímax deste novo “A morte do demônio”, embora muito bem elaborado com suas torrentes de sangue, agrade mais os cinéfilos do que o terrível, tosco, ridículo, mas divertidíssimo stop motion do filme original.


Conceito: Bom
Nota: 7,0