terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crítica: A Morte do Demônio



Direção: Fede Alvarez
Gênero: Terror
Duração: 91 min.
Ano: 2013


Remake de clássico trash peca pela seriedade excessiva

No longínquo ano de 1981, Sam Raimi era um cineasta amador, sem muitos recursos financeiros, mas, ainda assim, decidiu realizar uma obra de horror que conseguisse impressionar o público com a crueza de suas cenas. De fato, com “The Evil Dead”, conhecido no Brasil como “Uma noite alucinante: A morte do demônio”, Raimi deixou seu nome no rol dos criadores dos maiores clássicos do gênero. Considerado exageradamente violento para a época, o filme abusava do uso de secreções, mutilações e outras escatologias, tudo de forma tosca. Isto foi razão suficiente para que o mesmo fosse censurado em alguns países, o que não impediu que o longa se tornasse um Cult, uma lenda do horror.
Era previsível que mais cedo ou mais tarde, seguindo a onda de falta de originalidade hollywoodiana, “The Evil Dead” ganhasse um remake; na verdade, o que é de estranhar é que ele não tenha sido feito mais cedo, se bem que o resultado final explica, involuntariamente, porque isto não aconteceu. A refilmagem, dirigida pelo pouco conhecido Fede Alvarez, com produção do próprio Raimi fica muito aquém do original. Embora seja “agradavelmente” sangrento e muito superior ao filme de 1981 em questão de efeitos visuais (isto é mais que óbvio para qualquer filme atual, em relação aos antigos), o novo “A morte do demônio” não consegue o mesmo feito nos quesitos enredo e desenvolvimento dos personagens.
Na nova trama, temos o grupo de jovens que vai a uma cabana isolada numa floresta – situação mais clichê de um terror teen -, desta vez para ajudar na reabilitação de uma amiga envolvida em drogas. Chegando lá, um dos jovens, que por acaso é o nerd, encontra o famigerado Livro dos Mortos e, apesar das advertências, acaba evocando as forças malignas adormecidas. A partir daí, o horror toma conta da tela até o final da projeção, que culmina com uma literal chuva de sangue.  Dito assim, parece que “A morte do demônio” (Evil Dead, sem o artigo “The” do original) irá satisfazer os fãs de gore; de fato, é provável que sim. Alvarez não economiza nas cenas grotescas de violência explícita, que são, com certeza, surpreendentes e realistas ao extremo. Houve todo o cuidado de deixar tais cenas chocantes, sem o artificialismo evidente da computação gráfica, quase imperceptível aqui. O problema, no entanto, é que o filme destaca demais a violência e negligencia o roteiro e a evolução da história que pretende contar. Assim, o que se vê é um filme que, excluídas as cenas de horror propriamente dito, fica muito raso em sua estrutura, equivalendo a mais um terror genérico para adolescentes.
É interessante observar que, no filme original, o roteiro era muito pior, sem nenhuma profundidade, já que o foco era mesmo o trash. Porém, naquele filme havia a intencionalidade de abordar outros recursos, que, de certa forma, eclipsavam o script e direcionavam a atenção para elementos como as tomadas inteligentes, a câmera subjetiva (icônica no trabalho de Raimi) e o humor negro, muitas vezes escrachado. Isto garantia uma diversão “multiangular”, uma vez que a cena podia ser captada em diferentes perspectivas que se interligavam. No novo filme, intencionalmente ou não, qualquer vestígio de humor foi suprimido, o que tornou a produção muito pesada em seu clima; não há piadas, nem situações cômicas que façam o espectador se inserir naquele ambiente antes de o sangue começar a jorrar. É tudo tão sério e frio que o espectador se sente totalmente de fora da história, como se tivesse permissão apenas para ver, sem poder ao menos conhecer os personagens o suficiente para ter empatia por algum deles.
Obviamente, um filme de terror, como qualquer outro, pode sim ser sério e sombrio; entretanto, para isso é essencial que o roteiro permita tal abordagem, o que definitivamente não acontece com “A morte do demônio”. O filme insiste em querer ser levado a sério, mesmo com uma história clichê e batida que se encaixaria muito melhor no humor, e ainda assim ficaria discutível.
Contudo, alguns elementos de “A morte do demônio” merecem atenção; a fim de fazer o clima ficar aterrador, a fotografia sombria contribuiu bastante, assim como os efeitos sonoros de algumas cenas: o barulho da chuva, a respiração estertorada dos indivíduos possuídos, os instantes clássicos de silêncio que precedem os sustos, etc. Outro destaque é a interpretação de Jane Levy como Mia, a jovem abstinente, a primeira a sofrer os efeitos malignos do Livro dos Mortos. Não é exagero dizer que as expressões faciais e os sussurros dela ao começar a ficar perturbada são mais assustadores que a própria possessão posterior que ela sofre.

Avaliando, por fim, o horror visual do filme – seu ponto forte – um aspecto que chama a atenção é que ele seja quase que exclusivamente um espetáculo de sadismo feminino; note-se que as cenas mais intensas e chocantes são de mortes de mulheres, todas precedidas por alguma mutilação horrível: a moça que corta o braço, a outra que corta a boca (?) e, a melhor de todas, a moça possuída que corta a língua. Tudo é mostrado com o máximo de detalhes sangrentos, e pelo menos nisso os fãs do original irão se deliciar. Também é provável que gostem de algumas homenagens prestadas diretamente ao filme de 81: a já mencionada câmera subjetiva que corre pela floresta, acompanhada do ruído característico e o contraditório estupro de uma das moças por uma árvore possuída. Porém, é difícil crer que o clímax deste novo “A morte do demônio”, embora muito bem elaborado com suas torrentes de sangue, agrade mais os cinéfilos do que o terrível, tosco, ridículo, mas divertidíssimo stop motion do filme original.


Conceito: Bom
Nota: 7,0


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