Direção: Fede Alvarez
Gênero: Terror
Duração: 91 min.
Ano: 2013
Remake de clássico trash peca
pela seriedade excessiva
No longínquo ano de
1981, Sam Raimi era um cineasta amador, sem muitos recursos financeiros, mas,
ainda assim, decidiu realizar uma obra de horror que conseguisse impressionar o
público com a crueza de suas cenas. De fato, com “The Evil Dead”, conhecido no
Brasil como “Uma noite alucinante: A morte do demônio”, Raimi deixou seu nome
no rol dos criadores dos maiores clássicos do gênero. Considerado
exageradamente violento para a época, o filme abusava do uso de secreções,
mutilações e outras escatologias, tudo de forma tosca. Isto foi razão
suficiente para que o mesmo fosse censurado em alguns países, o que não impediu
que o longa se tornasse um Cult, uma lenda do horror.
Era previsível que
mais cedo ou mais tarde, seguindo a onda de falta de originalidade
hollywoodiana, “The Evil Dead” ganhasse um remake; na verdade, o que é de
estranhar é que ele não tenha sido feito mais cedo, se bem que o resultado
final explica, involuntariamente, porque isto não aconteceu. A refilmagem,
dirigida pelo pouco conhecido Fede Alvarez, com produção do próprio Raimi fica
muito aquém do original. Embora seja “agradavelmente” sangrento e muito
superior ao filme de 1981 em questão de efeitos visuais (isto é mais que óbvio
para qualquer filme atual, em relação aos antigos), o novo “A morte do demônio”
não consegue o mesmo feito nos quesitos enredo e desenvolvimento dos
personagens.
Na nova trama,
temos o grupo de jovens que vai a uma cabana isolada numa floresta – situação mais
clichê de um terror teen -, desta vez para ajudar na reabilitação de uma amiga
envolvida em drogas. Chegando lá, um dos jovens, que por acaso é o nerd,
encontra o famigerado Livro dos Mortos e, apesar das advertências, acaba
evocando as forças malignas adormecidas. A partir daí, o horror toma conta da
tela até o final da projeção, que culmina com uma literal chuva de sangue. Dito assim, parece que “A morte do demônio”
(Evil Dead, sem o artigo “The” do original) irá satisfazer os fãs de gore; de
fato, é provável que sim. Alvarez não economiza nas cenas grotescas de
violência explícita, que são, com certeza, surpreendentes e realistas ao
extremo. Houve todo o cuidado de deixar tais cenas chocantes, sem o
artificialismo evidente da computação gráfica, quase imperceptível aqui. O problema,
no entanto, é que o filme destaca demais a violência e negligencia o roteiro e
a evolução da história que pretende contar. Assim, o que se vê é um filme que,
excluídas as cenas de horror propriamente dito, fica muito raso em sua
estrutura, equivalendo a mais um terror genérico para adolescentes.
É interessante
observar que, no filme original, o roteiro era muito pior, sem nenhuma
profundidade, já que o foco era mesmo o trash. Porém, naquele filme havia a
intencionalidade de abordar outros recursos, que, de certa forma, eclipsavam o
script e direcionavam a atenção para elementos como as tomadas inteligentes, a
câmera subjetiva (icônica no trabalho de Raimi) e o humor negro, muitas vezes
escrachado. Isto garantia uma diversão “multiangular”, uma vez que a cena podia
ser captada em diferentes perspectivas que se interligavam. No novo filme,
intencionalmente ou não, qualquer vestígio de humor foi suprimido, o que tornou
a produção muito pesada em seu clima; não há piadas, nem situações cômicas que
façam o espectador se inserir naquele ambiente antes de o sangue começar a
jorrar. É tudo tão sério e frio que o espectador se sente totalmente de fora da
história, como se tivesse permissão apenas para ver, sem poder ao menos
conhecer os personagens o suficiente para ter empatia por algum deles.
Obviamente, um
filme de terror, como qualquer outro, pode sim ser sério e sombrio; entretanto,
para isso é essencial que o roteiro permita tal abordagem, o que
definitivamente não acontece com “A morte do demônio”. O filme insiste em
querer ser levado a sério, mesmo com uma história clichê e batida que se
encaixaria muito melhor no humor, e ainda assim ficaria discutível.
Contudo, alguns
elementos de “A morte do demônio” merecem atenção; a fim de fazer o clima ficar
aterrador, a fotografia sombria contribuiu bastante, assim como os efeitos
sonoros de algumas cenas: o barulho da chuva, a respiração estertorada dos
indivíduos possuídos, os instantes clássicos de silêncio que precedem os
sustos, etc. Outro destaque é a interpretação de Jane Levy como Mia, a jovem
abstinente, a primeira a sofrer os efeitos malignos do Livro dos Mortos. Não é
exagero dizer que as expressões faciais e os sussurros dela ao começar a ficar
perturbada são mais assustadores que a própria possessão posterior que ela
sofre.
Avaliando, por fim,
o horror visual do filme – seu ponto forte – um aspecto que chama a atenção é
que ele seja quase que exclusivamente um espetáculo de sadismo feminino;
note-se que as cenas mais intensas e chocantes são de mortes de mulheres, todas
precedidas por alguma mutilação horrível: a moça que corta o braço, a outra que
corta a boca (?) e, a melhor de todas, a moça possuída que corta a língua. Tudo
é mostrado com o máximo de detalhes sangrentos, e pelo menos nisso os fãs do
original irão se deliciar. Também é provável que gostem de algumas homenagens
prestadas diretamente ao filme de 81: a já mencionada câmera subjetiva que
corre pela floresta, acompanhada do ruído característico e o contraditório estupro
de uma das moças por uma árvore possuída. Porém, é difícil crer que o clímax
deste novo “A morte do demônio”, embora muito bem elaborado com suas torrentes
de sangue, agrade mais os cinéfilos do que o terrível, tosco, ridículo, mas
divertidíssimo stop motion do filme original.
Conceito: Bom
Nota: 7,0
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