sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Crítica: O Corvo



O CORVO





Filme de McTeigue fica em cima do muro

Depois de “V de vingança”, James McTeigue apresenta um trabalho que oscila entre o suspense e o dramalhão. “O Corvo” (The Raven) propõe-se a contar, da forma mais fantasiosa possível, uma versão dos últimos dias de vida do célebre escritor americano Edgar Allan Poe, famoso por seus textos sombrios envolvendo crimes, loucura e morte.
A premissa é boa e é exatamente nisso que o filme se baseia: nas obras de Poe, embora de forma bastante simplificada, por assim dizer. Basicamente, um assassino está se inspirando nas obras de Poe para cometer seus crimes. Este não é, provavelmente, o primeiro filme a usar um psicopata que se inspira em um escritor e, com certeza não é o melhor ou mais criativo. Entretanto, se falta complexidade no roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare, sobra beleza no visual de época do filme. A fotografia esfumaçada e azulada (ou acinzentada, dependendo da cena) transmite o frio e certo desconforto, propício para o clima soturno que o filme deseja proporcionar. Os figurinos também estão impecáveis, sóbrios e visualmente austeros, bastante condizentes com o tempo em que a história se passa, isto é, em meados do século XIX.
E, falando em visual, a violência gráfica deve agradar até mesmo os fãs fervorosos de “Jogos Mortais” ou demais produções deste estilo, com muito sangue e doses de horror, claramente visíveis, por exemplo, na cena do pêndulo. A tensão também está presente nas cenas claustrofóbicas, como a busca da vítima nos dutos subterrâneos e o sofrimento da mocinha enclausurada em algum lugar desconhecido, mas que ao final, com uma dica valiosa de “O coração revelador”, mostra-se bastante óbvio.
O astro da vez é John Cusack (“2012”), em uma de suas atuações mais caricatas, se não a maior. Ele interpreta um Poe arrogante, barulhento e verborrágico – um exemplo claro é a apreciação que ele faz de um poema declamado por uma senhora obesa. O poema é horrível, de fato, mas a “análise” de Poe é ainda pior, com ares de charlatanismo. É difícil imaginar que o verdadeiro Poe tenha sido tão escandaloso e indiscreto... Contudo, como recompensa a quem se sentiu atraído pelo título do famigerado poema “O Corvo”, há um momento em que Cusack declama uma pequena – lástima! – parte desse belo texto.
Não obstante isso, o filme segura as pontas com determinação, a começar por sua cena inicial, explícita referência a “Os assassinatos da Rua Morgue”. Daí em diante, temos uma mistura de “Sherlock Holmes” e “Jogos Mortais”: uma investigação de pistas intencionalmente deixadas pelo assassino, que levam a uma nova vítima, contendo pistas para a próxima vítima e assim por diante. Além disso, há o típico elemento surpresa da identidade incógnita do assassino, que somente é revelada nos instantes finais, como acontece, por exemplo, nos filmes da cinessérie “Scream”.
No final das contas, “O Corvo” é um filme que dividirá muito as opiniões do público: alguns irão curtir, certamente, essa história de perseguição à “gato e rato”; outros irão considerá-lo inteiramente descartável.Quem é fã de Poe e busca detalhes sobre sua vida sempre cercada de mistérios, pode se decepcionar, pois não vai encontrar respostas aqui; pelo menos não respostas reais. É apenas uma obra regular de pura fantasia e até uns resquícios de dramalhão romântico, embora com altos níveis de violência (censura de 16 anos), mas é só isso. Agora, quem busca só um entretenimento sem compromisso, complexidade ou crítica, certamente vai se deleitar e aproveitar bem as quase duas horas de projeção... como eu fiz.


Conceito: Bom
Nota: 7,0