sexta-feira, 4 de abril de 2014

CRÍTICA: TODO MUNDO QUASE MORTO



Direção: Edgar Wright
Gênero: Comédia/Terror
Duração: 99 min.
Ano: 2004

Uma obra de humor negro sofisticado

       Que George Romero é considerado o “pai dos zumbis” no cinema (ele é o responsável pelo visionário “Night of the Dead”), isto é uma opinião quase unânime entre os conhecedores do gênero terror. Que os monstros (vampiros, aliens, zumbis, lobisomens) estão em voga na mídia, mais populares e apelativos que nunca, isto também não é novidade. Em contrapartida, deixando o gênero de lado e dando uma olhada superficial sobre as produções de comédia escrachada, constatamos que o besteirol prevalece em número e em sequências mais que desnecessárias (vide o fiasco “Todo mundo em pânico”). Parece que, percebendo essas duas tendências – o terror trash e a comédia escatológica-, Edgar Wright viu o quanto seria interessante reunir esses temas distintos em uma produção que aproveitasse o “melhor” que cada um tinha a oferecer sem se tornar involuntariamente ridículo.
         O resultado dessa experiência é “Todo mundo quase morto” (Shawn of the Dead), que, apesar da versão patética do título em português, alusiva aos filmes da malfadada série “Scary Movie”, é bastante superior aos besteiróis convencionais. A princípio, “Shawn of the Dead” parece uma paródia de “Dawn of the Dead” (Madrugada dos Mortos) e até certo ponto pode ser considerado como tal; entretanto, o filme de Wright não se restringe a seguir a cartilha batida de piadas forçadas e maçantes satirizando o filme original. Isso porque Wright, diretor e roteirista, achou conveniente criar uma história própria, independente, que apenas fizesse referências genéricas aos filmes de apocalipse zumbi, em especial o mencionado “Madrugada dos Mortos”, de Zack Snyder.
         Em síntese, a história de “Todo mundo quase morto” é bastante simples e comum: conta a história de Shawn (Simon Pegg), um sujeito fracassado que leva uma vida medíocre e sem expectativas, a não ser enfrentar um emprego monótono e tentar reconquistar a namorada. Da noite para o dia, seguindo o clichê dos filmes de zumbi mais comuns, o mundo se infesta de mortos-vivos. Com a ajuda – ou, antes, com as trapalhadas - do não menos fracassado amigo (Nick Frost), Shawn se lança numa jornada de sobrevivência através da praga dos zumbis, à procura de um lugar seguro, levando na bagagem a família (mãe e padrasto) e a mulher que ama, mas que continua fazendo jogo duro devido a decepções que ele lhe causou quando estavam juntos.
         O humor do filme é construído através das falas e, mais que isso, das atitudes dos personagens ao longo desse trajeto até o “lugar seguro”, que, no caso, é um bar da pequena cidade onde vivem. Para um filme de comédia, os personagens são relativamente bem construídos, cada qual com sua importância, ainda que secundária no contexto da história, não se limitando ao papel de estereótipo. Há espaço até para a comédia romântica através das tentativas de Shawn em reaver o amor da ex-namorada.
         Naturalmente, não faltam as cenas de violência, típicas do trash zumbi, e Wright aproveita para transformar a maior parte dessas cenas em humor negro. Por fim, falando em zumbis, a caracterização deles é muito interessante, desde o modo hipnótico de andar até a maquiagem.

         Geralmente não se pode esperar muito de filmes de comédia em quesito de interpretações e roteiro, uma vez que sua função é divertir apenas naquele momento com piadas supérfluas e, por vezes, apelativas. Assim, nesse cenário batido e canhestro, “Todo mundo quase morto” configura-se como uma satisfatória exceção, sendo taxado até de comédia cult; de fato, em meio a tanta produção meia-boca, o filme de Edgar Wright apresenta certa sofisticação.


Conceito: Muito Bom
Nota: 8,0

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