quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Crítica: Orgulho & Preconceito




Direção: Joe Wright
Gênero: Romance
Duração: 127 min.
Ano: 2005
“Um filme brilhante.”
(Bill Zwecker CBS-TV)

“Delirantemente charmoso”
(Ruthe Stein – San Francisco Chronicle)

Uma adaptação que honra com maestria e elegância a obra de Austen

As obras clássicas da literatura estão constantemente sendo adaptadas para o cinema, mas o resultado nem sempre é agradável. Um dos erros mais frequentes é a ideia de atualizar a história e suas peculiaridades para novos públicos, ignorando-se intencionalmente os “detalhes” de época, que são, afinal de contas, parte essencial no contexto de tais obras. Felizmente, o diretor Joe Wright (pouco conhecido até a produção deste filme) percebeu a importância crucial dos detalhes históricos na reconstrução cinematográfica de um livro e entregou um dos filmes mais fiéis e dignos da obra original já produzidos.
A trama de “Orgulho e Preconceito” (Pride and Prejudice) desenvolve-se a partir da curiosa – mas, muito comum na época – situação da família Benneth, cuja matriarca (Brenda Blethyn) leva a vida planejando bons arranjos de casamento para suas cinco filhas: Jane, Lydia, Mary, Kitty e a protagonista, Elizabeth. Dentro do contexto social da Inglaterra, no século XVIII, esta era uma preocupação de grande importância, uma vez que desses arranjos dependia o futuro de toda uma família. Enquanto as demais Benneth são relativamente passivas diante dessa “obsessão” da mãe em querer casá-las, Elizabeth (Keira Knightley) demonstra um pouco mais de orgulho e espírito livre, não desejando se casar apenas para agradar a sociedade. Quando uma propriedade vizinha à dos Benneth é alugada por um senhor rico e solteiro, a senhora Benneth e as filhas ficam alvoroçadas para conhecer o futuro pretendente. Entretanto, o locatário traz consigo um amigo, Darcy (Matthew MacFadyen), um homem orgulhoso e circunspecto, que vive com Elizabeth uma relação conturbada de aparente rejeição, marcada por epigramas e disputas intelectuais, uma vez que eles fazem um julgamento precipitado do outro.
Esta é a sétima adaptação da obra de Jane Austen (incluindo-se as versões televisivas) e é interessante ver o quanto Wright, mesmo sendo estreante, conseguiu captar a essência do livro e levá-la às telas, sem se tornar repetitivo ou clichê; em vez disso, ele imprimiu um estilo próprio à produção, demonstrando um equilíbrio exemplar em ritmo e desenvolvimento da trama. Algumas alterações notáveis foram feitas no roteiro original, mas não houve desrespeito ao contexto da história ou simplificações no sentido de acelerar a narrativa; o que se vê é um trabalho no qual toda uma pesquisa e um estudo profundo do romance resultaram em cuidadosa produção, riquíssima em detalhes.
Esses detalhes mencionados estão presentes o tempo todo na projeção: a linguagem rebuscada, típica do período em que se passa a história, os cumprimentos por reverência, o puritanismo da intimidade – onde um toque ou um olhar são suficientemente excitantes e demonstram o máximo de afeição -, a submissão das mulheres aos casamentos por acordo dos pais... Essa riqueza de observação histórica, aliada a uma magnífica reconstrução de ambientes de época (mansões suntuosas, salões de baile) trazem à tona toda a beleza do livro, sem, contudo, apoiar-se nesses acessórios para enganar os olhos com um drama meloso.
Na verdade, os protagonistas Elizabeth e Darcy, mesmo que estejam no típico papel de par que se odeia até uma declaração de amor no final, estão muito longe de corresponder às expectativas superficiais de um filme melodramático ou de uma comédia romântica. Eles são personagens complexos, que se desenvolvem com o passar do tempo, revelando que as primeiras impressões negativas que tiveram estavam fundamentadas apenas em uma visão rasa, enquanto, na verdade, todos têm suas razões para ser como são.
Keira Knightley demonstra segurança em sua interpretação cheia de carisma e inteligência, enquanto MacFadyen incorporou brilhantemente o personagem sério e altivo, mesclando um ar aristocrático ao seu lado humano, que se revela em momentos-chave do filme: o toque de mãos quando se despedem, o pedido de casamento na chuva, a confissão sobre sua irmã, etc. Wright consegue, ainda, acentuar a relação entre os protagonistas em determinadas situações, sendo que a mais perceptível é durante o baile, quando Elizabeth e Darcy dançam em um salão “vazio” (está cheio de pessoas, mas o instante é tão lírico que eles só veem a si mesmos). O momento da dança é outro ponto de grande destaque em “Orgulho e Preconceito”, pois representava, na época do romance, um ritual de cortejo, de busca de um par e, certamente, de um cônjuge.

Todo filme que deseje ser lembrado deve ter sua marca própria, seu estilo pessoal, que o torne único. No caso da película de Joe Wright, isto se faz por meio de vários fatores; a fotografia bucólica é fantástica, de uma naturalidade vibrante, enquanto a trilha sonora de Dario Marianelli transmite a leveza ou a emoção necessária a cada momento. Não bastassem todas estas qualidades, o filme tem o charme de inspirar o espectador a querer conhecer a obra literária (ou relê-la), algo raramente observável nas outras adaptações que surgem dia após dia.


Conceito: Excelente
Nota: 10,0

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