terça-feira, 29 de maio de 2012

Crítica: O Segredo de Brokeback Mountain

                                                


Direção: Ang Lee
Gênero: Drama
Duração:134 min.
Ano: 2005
"Excelente!"
(Veja São Paulo)

"Indispensável"
(IstoÉ Gente)


Diretor premiado aborda os múltiplos dramas da homossexualidade

         A homossexualidade sempre foi uma opção sexual problemática para homens e mulheres em todas as épocas. Ainda hoje, são frequentes os relatos e reportagens de pessoas que sofrem bullying (outro tema polêmico da atualidade), perseguição e as mais diversas formas de violência por homofobia. Se este comportamento brutal ainda está presente na nossa sociedade contemporânea, tão "civilizada", imagine-se como seria encarado um relacionamento homossexual em plenos anos 60. É fundamentando-se nessa questão que Ang Lee apresenta um dos filmes mais polêmicos e elogiados de todos os tempos.
          “O Segredo de Brokeback Mountain” é um filme que oscila entre a dureza de sua temática complexa – a homossexualidade – e a sutileza com que na trata questões secundárias ligadas ao "problema" de ser gay em um tempo marcado pela intolerância às diferenças. Ser homossexual na década de 60 era algo absolutamente condenável; este pensamento, como sabemos, não mudou muito com o passar dos anos. A história, baseada no conto de Annie Proulx, vencedor de um dos prêmios mais cobiçados da literatura americana, fala de dois vaqueiros, Ennis Del Mar (Heath Ledger, o Coringa de "O Cavaleiro das Trevas") e Jack Twist (Jake Gyllenhaal, de "O Dia Depois de Amanhã"), que se conhecem no trabalho de pastorear ovelhas na fictícia montanha Brokeback. Isolados ali, ao relento, sem muitas perspectivas para o futuro, os dois acabam por desenvolver uma certa afinidade, que logo se transforma em relacionamento sexual. Naturalmente, eles estranham esse relacionamento no início, pois até aquele momento não tinham consciência dessa atração por nenhuma outra pessoa do mesmo sexo. A relação deles se estreita e, quando chega a hora de cada um seguir seus caminhos é que eles percebem o quanto dependem,não apenas sexual, mas afetiva e psicologicamente um do outro.
          Eles se casam, com mulheres, evidentemente, têm filhos, mas mantêm em segredo essa relação que julgam ser página virada, até que se reencontram. Daí, desencadeia-se uma série de eventos dolorosos que fragilizam as convivências com suas respectivas "famílias hétero", resultando em sofrimentos, pressões morais, desentendimentos conjugais, separação. O maior conflito, nesse caso, é o vivido por Ennis e sua esposa Alma (Michelle Williams, esposa de Ledger também na vida real). Alma é a personificação da absoluta fragilidade feminina de época neste filme, sempre de olhos baixos, pálida e submissa, até descobrir o segredo do marido. A partir daí ela ganha alguma força, mais por desespero do que por qualquer outro motivo.
          Ang Lee retrata com extrema sensibilidade esse intrincado drama de amor - pois não deixa de ser um romance - fazendo-nos refletir sobre a dificuldade de se seguir uma moral imposta por uma sociedade falsamente moralista, de valores corrompidos. Nessa sociedade não cabe nenhuma expressão de afeto que fuja aos padrões ditados pela “normalidade”. Os demais aspectos técnicos do filme o complementam com um rigor impressionante; as atuações de Ledger e Gyllenhaal estão excelentes; os dois estão executando interpretações brilhantes e convincentes, e certamente entraram para a história do cinema: Ledger fechado, sério, introspectivo, falando pouco e com a boca quase fechada; Gyllenhaal mais expansivo e mais solto do que em seus poucos trabalhos anteriores (isso era fundamental, já que quase todas as iniciativas de sustentar a relação são tomadas por ele). Ambos foram merecidamente indicados ao Oscar nas categorias de “Melhor ator” e “Melhor ator coadjuvante” respectivamente.
Os outros detalhes estão extremamente alinhados ao contexto da narrativa: a fotografia é belíssima, natural; a trilha sonora, de Gustavo Santaolalla, composta principalmente por notas de violão, se insere nos momentos exatos para garantir mais emoção e impacto à narrativa - destaque para The Wings - ; o roteiro também está impecável: enxuto, direto e sensível simultaneamente (vendedor do Oscar de “Melhor roteiro adaptado”). Por esses e por outros detalhes que complementam a trama, "Brokeback Mountain" foi também indicado ao Oscar de Melhor Filme, infelizmente perdendo a estatueta para "Crash”. Ao menos é reconfortante saber que Ang Lee teve o reconhecimento da Academia por este trabalho tão ousado, ganhando a estatueta por “Melhor Diretor”.
Enfim, falar de "Brokeback Mountain" é uma tarefa fácil e difícil ao mesmo tempo; requer reflexão e coragem. Coragem para elogiar um filme tão belo e, mesmo assim, tão desprezado pelas pessoas mais conservadoras, que vivem ainda sob a sombra de preconceitos e pré-julgamentos.
         Entretanto, "Brokeback Mountain" está longe de ser um filme sobre ou para gays; não foi devido a seu conteúdo homossexual que ele tornou-se célebre, mas por sua mensagem essencial, que se aplica a todas as pessoas a quem se dirige o principal questionamento de Ang Lee nessa obra atemporal: as pessoas têm ou não o direito de ser felizes, mesmo que de forma diferente? Paralelamente, pode-se questionar o slogan do filme: “O amor é uma força da natureza”; então, perguntamo-nos se é possível refrear os instintos mais primitivos e ‘sagrados’ da vida: o amor sexual, apenas para estar em conformidade com modelos e regras obsoletos.


Conceito: Excelente
Nota: 10,0




TRILHA SONORA:

A trilha de "Brokeback Mountain" está disponível para download  NESTE LINK

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