quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Crítica: O retrato de Dorian Gray




Direção: Oliver Parker
Gênero: Suspense
Duração: 112 min.

Ano: 2009

“Uma bem-cuidada e surpreendente adaptação da obra-prima de Wilde”

 (Folha de São Paulo)

Nova versão do clássico é mais sombria do que literariamente fiel

Quando foi lançado, ainda no século XIX, o romance “O retrato de Dorian Gray”, obra-prima de Oscar Wilde, tornou-se bastante polêmico devido à sua crítica social e o sarcasmo muito bem pintados na trama do rapaz inglês cuja beleza ímpar se torna sua obsessão e maldição. Como outros clássicos, o livro foi adaptado inúmeras vezes para o cinema, até que chega, agora, a nova versão do romance que não envelhece – literalmente – dirigida por Oliver Parker.
Na trama, conhecida por praticamente todo mundo, o jovem e ingênuo Dorian Gray (Ben Barnes, de “As crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian”) chega a Londres para tomar posse da herança de seu avô recentemente falecido. Logo conhece Basil Hallward, pintor que se mostra admirado pela beleza do rapaz, e se propõe a pintar o retrato dele. Paralelamente, Dorian conhece Henry Wotton (Colin Firth, vencedor do Oscar de Melhor Ator por “O discurso do rei”), um nobre hipócrita e sarcástico, representante da elite inglesa e de suas falhas morais. Wotton vai, aos poucos, influenciando Dorian a se degradar, entregando-se a vícios e “pecados”.
Quando Basil finalmente termina o quadro, Dorian fica de tal forma fascinado pelo fato de aquele quadro ficar intacto para sempre, enquanto ele, o “modelo” envelhecerá e perderá a beleza, que faz o famoso pacto de trocar a alma pela juventude eterna. A partir daí, a vida de Dorian desmorona moralmente, embora ele não note isso à primeira vista. O quadro vai envelhecendo em seu lugar, acumulando também os erros e a corrupção interna do jovem.
Dadas estas informações acerca do enredo do filme, façamos uma análise geral de seus aspectos; a princípio, o protagonista Ben Barnes representa muito da essência do personagem de Wilde, apesar de não ser fisicamente semelhante a ele. A interpretação de Barnes da ingenuidade à frieza, no decorrer do filme ficou ótima, justamente porque não houve “atropelos” ou pressa em fazer com que Dorian passasse de mocinho a vilão de um momento para outro; ele se corrompe aos poucos, gradualmente. O resultado é satisfatório o bastante para mal reconhecermos que o homem sexual e moralmente pervertido do final do filme é o mesmo que mal sabia fumar no início.
Não é possível falar em interpretação sem mencionar o destaque de Colin Firth como Lorde Wotton; a espontaneidade de Wotton em expor suas frases de filosofia particularmente distorcidas soa tão convincente que é fácil compreender por que a Folha de São Paulo disse que “Colin Firth rouba a cena como Lord Wotton”. Contudo, o brilhantismo de Firth não chega ao final do filme; na parte final, quando as décadas têm passado, Wotton, mais velho e sensato não consegue ser tão interessante quanto na primeira parte; além disso, suas falas são muito previsíveis nessa fase, tornando seu personagem um tanto dispensável. 
Quanto aos aspectos técnicos, o filme de Oliver Parker é visualmente deslumbrante; os figurinos pomposos de época, a fotografia sombria e, claro, o famigerado quadro são fatores que enchem os olhos, especialmente porque os responsáveis por roteiro, produção e direção acharam por bem manter o contexto da obra, ainda que a adaptação tenha tomado rumo diferente a certa altura.
Percebe-se a intenção de Parker em trazer uma versão que fosse fiel ao livro até onde fosse absolutamente necessário, mas que deixasse uma marca própria; esta marca é perceptível no estilo sombrio da projeção, com seus momentos de suspense e tensão que se aproximam dos filmes de terror, onde não faltam os elementos clássicos dos fantasmas, pesadelos e uma dose não tão discreta de violência e sangue.
De fato, o filme não é inteiramente correspondente ao romance (afinal, não existe nenhum filme que tenha atingido esse feito, nem é propósito de nenhum cineasta que aja racionalmente). O que conta, de verdade, é o delineamento psicológico dos personagens em primeiro plano, e isso o filme consegue transmitir muito bem: da degradação da sanidade de Dorian Gray à admiração homoerótica de Basil Hallward por ele, por exemplo; em segundo lugar, as críticas sociais à hipocrisia e à supervalorização do dinheiro e da beleza. Isto também é bastante transparente tanto no livro quanto no filme. Esses dois fatores são suficientes para valer a pena ver a película.



Conceito: Ótimo
Nota: 9,0

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Crítica: O Segredo da Cabana




Direção: Drew Goddard
Gênero: Terror
Duração: 95 min.
Ano: 2012

“O filme de terror mais inteligente dos últimos tempos!”
(Ain’t it Cool News)


 Realizador de “Os Vingadores” traz um filme surpreendentemente original

O típico grupo de adolescentes decide passar o fim de semana numa cabana isolada no meio de uma floresta sombria, até que, involuntariamente, acabam fazendo algo de tremendamente errado e libertam forças malignas que irão persegui-los e matá-los, um a um. Por esta visão inicial, “O segredo da cabana” (The Cabin in the Woods) parece mais um desses filmes teen absurdamente clichês e desnecessários, copiados e reciclados infinitamente em Hollywood. Mas, para a sorte dos cinéfilos que vivem bocejando por uma produção de terror decente nos dias atuais, o filme de Drew Goddard (Os Vingadores) surpreende, e no bom sentido.
Além da ótima direção de Goddard, o roteiro meticulosamente planejado de Joss Whedon e do próprio diretor é uma pequena obra-prima que satiriza, de forma aparentemente séria, os filmes de terror em geral. Nesse sentido, o filme se assemelha a "Pânico" (Scream), de Wes Craven, embora sob uma perspectiva diferente. Tudo em “O segredo da cabana” possui uma subcamada de interpretação, por baixo da trama aparentemente óbvia e batida.
Na história, temos os personagens típicos do cinema de terror convencionais: a “virgem” tímida, a loira “vadia”, o atleta machão, o rapaz inteligente e gentil e, claro, o idiota “chapado”. O primeiro destaque é que cada um desses personagens foi “escolhido” para estar ali, embora não saibam disso; todos fazem parte, involuntariamente, de uma espécie de jogo macabro, no qual são meros peões no tabuleiro. Na cabana, onde estão sendo vigiados o tempo todo, cada uma de suas ações é premeditada pelos “organizadores” do jogo, que os influenciam em tudo: da decisão de se separarem, na hora do perigo (atitude que tem a finalidade clássica de deixá-los vulneráveis) até o “clima” para o sexo, que é severamente punido.
Essas atitudes manipuladas dos personagens conferem à história uma veia de humor constante, embora não de forma escrachada; as falas dos personagens revelam as piadas e referências cômicas a diversos filmes do gênero. As interpretações não são brilhantes, mas até nisso o roteiro é inteligente, pois era necessário que os personagens fossem bastante obtusos diante do óbvio, para se tornarem presas fáceis das criaturas malignas que os perseguem. Quanto às “criaturas”, estas são dos mais variados e assustadores tipos: de zumbis, passando por monstros marinhos, palhaços assassinos, morcegos gigantes, fantasmas e mais uma horda de pesadelos que vemos em toda a sua plenitude asquerosa no clímax do filme.
Ao final, é impossível não ficar perplexo diante da complexidade e organização do “centro” que comanda a chacina dos jovens, que mistura rituais de sacrifício humano, Big Brother e Cubo, tudo muito bem amarrado e explicado pela sempre competente Sigourney Weaver, que faz uma ponta no final como a Diretora daquele circo de horrores.

Como ponto negativo, o que decepciona um pouco é o excesso de CG em algumas cenas sangrentas, que soam muito artificiais em certos pontos; porém, o que compensa é que não economizaram na tinta vermelha também, que dá um verdadeiro banho de sangue no final... literalmente.


Conceito: Ótimo
Nota: 9,0

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Crítica: A Hora do Espanto



“Excitante, cheio de estilo e muito divertido!”
(Scott Mantz, Acess Hollywood)

Refilmagem de clássico oitentista derrapa, mas consegue se equilibrar

O filme “Fright night”, de 1985, dirigido por Tom Holland (Brinquedo Assassino), é um daqueles clássicos trash para adolescentes e, de certa forma, tornou-se um ícone do vampirismo jovem daquela década, ao lado de “Garotos Perdidos”. O filme misturava comédia com o horror pastelão típico das produções B de orçamento baixo. Agora, aproveitando a onda de “ressurreição” dos vampiros nas mídias atuais, o diretor Craig Gillespie traz uma refilmagem que fica muito aquém da obra original, mas consegue divertir o público com as atuações razoáveis de Colin Farrell e Anton Yelchin.
O filme de Gillespie não tem a espontaneidade e o roteiro despretensioso e engraçado da película dos anos 80, mas também não é um filme sem identidade. Percebe-se a preocupação do roteiro e da direção em, de fato, atualizar a história e trazer para os dias atuais a divertida situação de um adolescente que descobre que o seu novo vizinho é um vampiro. Charley (Yelchin), o protagonista, a princípio não acredita nisso, mas, quando estranhos acontecimentos se desenrolam nas redondezas, ele percebe a dimensão do perigo e tenta encontrar uma forma de eliminar o monstro, ao lado de sua namorada e sua mãe, ambas também incrédulas sobre essa história de vampiros.
É interessante que o remake não tenha alterado a personalidade de seus vampiros, como as produções atuais de gosto duvidoso acerca dos eternos sanguessugas. Aqui, a essência e a mitologia vampirescas são preservadas de forma exemplar; vampiros queimam ao sol, não têm reflexos (nem aparecem em câmeras!), temem crucifixos e alho e, o principal, são seres sensuais, com uma sexualidade pulsante. Colin Farrell está muito à vontade em seu papel de vilão, embora seu vampiro seja mais canastrão do que charmoso. E, falando em canastrice, há que se citar Peter Vincent, o personagem de David Tennant, que vem a ser o mais interessante e engraçado do filme; ele é um tipo de ilusionista fajuto e covarde que apresenta espetáculos e um programa de televisão em que se autodenomina um especialista em vampiros. Ele será o auxiliar de Charley, mesmo que a contragosto, em sua missão de exterminar o vampiro Jerry (Farrell) e tem algumas das falas mais cômicas da produção – excetuando-se a referência hilária a “Crepúsculo”.
Contudo, em alguns aspectos, o novo “A Hora do Espanto” derrapa quando devia agradar mais o público; uma de suas maiores falhas é o excesso de CG nas cenas de violência, incluindo as mortes exageradamente pirotécnicas dos vampiros. O sangue também é frustrante para os amantes do gore; pouco se vê a boa e velha tinta vermelha ou um xarope qualquer, pois até aqui prevalece a computação gráfica com seu sangue artificial em pixels.

Então, no fim das contas, “A Hora do Espanto” não é, decididamente, um filme imperdível nem impecável; pelo contrário, contém algumas falhas e um roteiro apenas sofrível. Entretanto, consegue se fazer presente, quando comparado ao gigantesco número de tolices hollywoodianas produzidas apenas para distrair – e mal – o público do gênero terror/comédia teen, raramente agraciado com uma obra interessante e criativa.



Conceito: Bom
Nota: 7,0