Direção: Tim Burton
Gênero: Fantasia
Duração:108 min.
Ano: 2010
Filme de Tim Burton
é visualmente imperdível
O livro “Alice no
País das Maravilhas” foi, sem dúvida nenhuma, um marco na literatura fantástica
infantil, com sua trama surreal e cheia de ambiguidades. Como era de se
esperar, inúmeras versões da obra de Lewis Carroll foram produzidas ao longo do
tempo, de adaptações literárias a peças de teatro e filmes – incluindo a bela
produção em desenho animado da Disney. É até estranho que tenha sido surpresa
quando Tim Burton, conhecido pelas suas criações sombrias e bem-humoradas,
anunciou que realizaria uma nova versão do clássico de Carroll.
“Alice no País das
Maravilhas” (Alice in Wonderland) é, na verdade, uma adaptação livre não apenas
da obra que lhe dá o título, mas também da história seguinte, “Alice no País do
Espelho”, sem se prender a nenhuma delas rigorosamente. Isto não prejudica o
filme; longe disso, o roteiro inteligente de Linda Woolverton alia os pontos
principais de ambas as obras e ainda constrói uma espécie de continuação, de
modo que todos os personagens preservam as características essenciais e a trama
se mantém fluente por quase toda a projeção, salvo pequenas falhas de ritmo.
Na nova versão,
temos uma Alice (Mia Wasikowska) adolescente que, depois de passar toda a
infância “sonhando” com o Mundo Subterrâneo (ou País das Maravilhas), tem que
enfrentar o moralismo vitoriano de sua época e decidir se quer casar com um
homem a quem não ama. No exato dia do pedido de noivado, ela (re)encontra o
Coelho Branco e mais uma vez (ou seria a primeira?) cai na toca dele, indo
parar no estranho e divertido mundo a que tanto viajou enquanto criança. O
início de sua jornada no País das Maravilhas é relativamente fiel ao do livro,
tendo até a hilária situação de seus crescimentos e diminuições, enquanto come
do bolo e toma do líquido da garrafa mágica na Sala Redonda. Em seguida, ela
reencontra os personagens célebres daquele mundo surreal: o Coelho, a lagarta
Absolem, os gêmeos Tweedledee e Tweedledum, a Lebre de Março e tantos outros,
sem esquecer o principal deles: Chapeleiro Maluco (Johnny Depp,
irreconhecível).
Enquanto vai
(re)conhecendo o País das Maravilhas, Alice é notificada de uma “profecia”, na
qual deve enfrentar a tirania da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) e
ajudar a Rainha Branca (Anne Hathaway) a recuperar sua coroa. O filme trabalha
basicamente a dúvida de Alice em assumir esta responsabilidade, uma vez que ela
não tem certeza de que é a “Alice certa”.
Como ocorre com a
maioria dos filmes de Burton, “Alice in Wonderland” dividiu opiniões e posturas
da crítica, oscilando de boas recepções a indiferença. Muito se falou, por
exemplo, sobre o vestido de Alice, que se ajusta aos seus estágios de
crescimento, mas, sinceramente, não creio que este seja um “erro” a ser
considerado ou criticado num filme de fantasia. É mais interessante falar das
características técnicas e sobre a produção em si.
O visual do filme é
fascinante, com cenários e criaturas digitais muito bem construídos, unindo a
perspectiva de Burton e a própria imagem deixada pelos livros de Carroll, ambas
repletas de bizarrices bem-humoradas. Quanto aos personagens, além do destaque
de Depp como Chapeleiro Maluco, outra personagem importantíssima é a de Helena B.
Carter como a nanica e cabeçuda Rainha Vermelha, sempre ávida por cabeças
cortadas. A atriz parece ter um talento singular para incorporar esse tipo de
personagem, assumindo trejeitos, olhares e gritos que a tornam irritante, mas
divertidíssima como vilã.
Entretanto,
analisando minuciosamente, o filme possui pequenas falhas. Uma delas é a
presença de Anne Hathaway, que apesar de ser ótima atriz, está meio fora de
foco aqui; talvez porque sua personagem seja muito pequena e ela tenha sido
reduzida a simplesmente uma participação de luxo. A protagonista, Mia Wasikowska
também careceu de um pouco mais de carisma e personalidade, duas
características fundamentais para levar o espectador a sentir empatia por um
personagem. O roteiro, embora fluente e inteligente, como já mencionado, é um
tanto arrastado no início (na parte que precede o retorno da protagonista ao
Mundo Subterrâneo). Obviamente, isto se fez necessário para explicar as
circunstâncias que levarão Alice de volta a Wonderland, mas quebra um pouco do ritmo
que o filme tenta estabelecer. Felizmente, minutos depois ele recupera o fôlego
e enche os olhos do espectador com suas situações surreais e dinâmicas, em
especial sob uma perspectiva visual.
Ao fim, a sensação
que fica de “Alice no País das Maravilhas” é que ele proporciona uma satisfação
sensorial fascinante, funcionando como um entretenimento realmente divertido, a
despeito de seus pequenos deslizes, perdoáveis pelo prazer de distrair olhos e
mente com mais uma produção marcante de Tim Burton. Só o fato de terem tido a
ideia de criar uma Alice mais madura sem as apelações bobas e românticas
típicas do cinema para adolescentes (Alice vivendo um romance com o Chapeleiro,
por exemplo, seria insuportável) já é algo louvável e digno para a obra.
Conceito: Ótimo
Nota: 9,0
CURIOSIDADES SOBRE ESTE FILME:
v "Alice no
País das Maravilhas" foi indicado ao Globo de Ouro de
"Melhor Filme - Comédia ou Musical" e também ao Globo de Ouro de
"Melhor Trilha Sonora";
v Johnny Depp foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator -
Comédia ou Musical.
v Os custos de "Alice no País das Maravilhas"
foram de US$ 200 milhões, um investimento com retorno de US$ 1.024 bilhões nas
bilheterias.
v Esta é a segunda versão do livro de Carroll para o cinema
(excetuando a versão animada), sendo que a primeira é de 1951.
TRILHA SONORA
Faça o download da trilha sonora de "Alice in Wonderland" por meio do seguinte link: http://depositfiles.org/files/pfa0zqcoy
Um dos temas do filme é interpretado por Avril Lavigne e intitula-se "Alice". Confira o videoclipe a seguir:
Para mais informações extras sobre "Alice in Wonderland", acesse os vídeos indicados:
BASTIDORES: http://www.youtube.com/watch?v=KtA4sF_CvIs
EFEITOS ESPECIAIS: http://www.youtube.com/watch?v=NnZH7A_JHVs
FIGURINOS: http://www.youtube.com/watch?v=7u-p0R8e8pM
Tuas críticas a respeito da sétima arte são sempre inspiradoras, já que assistir meramente é algo muito comum, muitas vezes, pois, é assim que se dá com pessoas que se consideram, erroneamente, grandes conhecedoras dessa área. Tua visão altamente observadora e detalhista preenche o leitor de sensações elevadas a respeito da obra analisada. Entre os tantos detalhes comentados, gostaria de salientar a seguinte passagem, a qual tu fizeste uma referência na presente crítica: "Só o fato de terem tido a ideia de criar uma Alice mais madura sem as apelações bobas e românticas típicas do cinema para adolescentes (Alice vivendo um romance com o Chapeleiro, por exemplo, seria insuportável) já é algo louvável e digno para a obra." Seria ou é (quase) insuportável? Pois, no fim do filme, não vemos, de fato, um flerte entre o chapeleiro (ah, o Depp!!) e a Alice? Não é ela quem diz e declara que jamais o esqueceria e não é ele quem diz "e como se lembraria de mim?". Se isto não foi uma declarada possível aproximação sentimental entre Alice e o chapeleiro, então, desconheço os parâmetros reais de sensibilidade romanesca desse âmbito cinematográfico.
ResponderExcluirDe fato! Há sim uma referência romanesca não só no final do filme, mas no próprio "desdobramento" de todo ele, na relação entre Alice e o Chapeleiro... Contudo, tal referência difere das mencionadas bobagens adolescentes e acéfalas que subestimam a inteligência do espectador e apenas apelam para sentimentalismo barato e raso. No caso do filme de Burton, ficou tudo muito sutil, mesmo levando em conta o teor "surreal" geral da obra!
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