Direção: Joe Wright
Gênero: Romance
Duração: 127 min.
Ano: 2005
“Um filme brilhante.”
(Bill Zwecker
CBS-TV)
“Delirantemente
charmoso”
(Ruthe Stein – San Francisco Chronicle)
Uma adaptação que honra com maestria
e elegância a obra de Austen
As obras clássicas
da literatura estão constantemente sendo adaptadas para o cinema, mas o
resultado nem sempre é agradável. Um dos erros mais frequentes é a ideia de
atualizar a história e suas peculiaridades para novos públicos, ignorando-se
intencionalmente os “detalhes” de época, que são, afinal de contas, parte
essencial no contexto de tais obras. Felizmente, o diretor Joe Wright (pouco
conhecido até a produção deste filme) percebeu a importância crucial dos
detalhes históricos na reconstrução cinematográfica de um livro e entregou um
dos filmes mais fiéis e dignos da obra original já produzidos.
A trama de “Orgulho
e Preconceito” (Pride and Prejudice) desenvolve-se a partir da curiosa – mas,
muito comum na época – situação da família Benneth, cuja matriarca (Brenda
Blethyn) leva a vida planejando bons arranjos de casamento para suas cinco
filhas: Jane, Lydia, Mary, Kitty e a protagonista, Elizabeth. Dentro do
contexto social da Inglaterra, no século XVIII, esta era uma preocupação de
grande importância, uma vez que desses arranjos dependia o futuro de toda uma
família. Enquanto as demais Benneth são relativamente passivas diante dessa
“obsessão” da mãe em querer casá-las, Elizabeth (Keira Knightley) demonstra um
pouco mais de orgulho e espírito livre, não desejando se casar apenas para
agradar a sociedade. Quando uma propriedade vizinha à dos Benneth é alugada por
um senhor rico e solteiro, a senhora Benneth e as filhas ficam alvoroçadas para
conhecer o futuro pretendente. Entretanto, o locatário traz consigo um amigo,
Darcy (Matthew MacFadyen), um homem orgulhoso e circunspecto, que vive com
Elizabeth uma relação conturbada de aparente rejeição, marcada por epigramas e
disputas intelectuais, uma vez que eles fazem um julgamento precipitado do
outro.
Esta é a sétima
adaptação da obra de Jane Austen (incluindo-se as versões televisivas) e é
interessante ver o quanto Wright, mesmo sendo estreante, conseguiu captar a
essência do livro e levá-la às telas, sem se tornar repetitivo ou clichê; em
vez disso, ele imprimiu um estilo próprio à produção, demonstrando um
equilíbrio exemplar em ritmo e desenvolvimento da trama. Algumas alterações
notáveis foram feitas no roteiro original, mas não houve desrespeito ao
contexto da história ou simplificações no sentido de acelerar a narrativa; o
que se vê é um trabalho no qual toda uma pesquisa e um estudo profundo do
romance resultaram em cuidadosa produção, riquíssima em detalhes.
Esses detalhes
mencionados estão presentes o tempo todo na projeção: a linguagem rebuscada,
típica do período em que se passa a história, os cumprimentos por reverência, o
puritanismo da intimidade – onde um toque ou um olhar são suficientemente
excitantes e demonstram o máximo de afeição -, a submissão das mulheres aos
casamentos por acordo dos pais... Essa riqueza de observação histórica, aliada
a uma magnífica reconstrução de ambientes de época (mansões suntuosas, salões
de baile) trazem à tona toda a beleza do livro, sem, contudo, apoiar-se nesses
acessórios para enganar os olhos com um drama meloso.
Na verdade, os
protagonistas Elizabeth e Darcy, mesmo que estejam no típico papel de par que
se odeia até uma declaração de amor no final, estão muito longe de corresponder
às expectativas superficiais de um filme melodramático ou de uma comédia
romântica. Eles são personagens complexos, que se desenvolvem com o passar do
tempo, revelando que as primeiras impressões negativas que tiveram estavam
fundamentadas apenas em uma visão rasa, enquanto, na verdade, todos têm suas
razões para ser como são.
Keira Knightley
demonstra segurança em sua interpretação cheia de carisma e inteligência,
enquanto MacFadyen incorporou brilhantemente o personagem sério e altivo, mesclando
um ar aristocrático ao seu lado humano, que se revela em momentos-chave do
filme: o toque de mãos quando se despedem, o pedido de casamento na chuva, a
confissão sobre sua irmã, etc. Wright consegue, ainda, acentuar a relação entre
os protagonistas em determinadas situações, sendo que a mais perceptível é
durante o baile, quando Elizabeth e Darcy dançam em um salão “vazio” (está
cheio de pessoas, mas o instante é tão lírico que eles só veem a si mesmos). O
momento da dança é outro ponto de grande destaque em “Orgulho e Preconceito”,
pois representava, na época do romance, um ritual de cortejo, de busca de um
par e, certamente, de um cônjuge.
Todo filme que
deseje ser lembrado deve ter sua marca própria, seu estilo pessoal, que o torne
único. No caso da película de Joe Wright, isto se faz por meio de vários
fatores; a fotografia bucólica é fantástica, de uma naturalidade vibrante,
enquanto a trilha sonora de Dario Marianelli transmite a leveza ou a emoção
necessária a cada momento. Não bastassem todas estas qualidades, o filme tem o
charme de inspirar o espectador a querer conhecer a obra literária (ou
relê-la), algo raramente observável nas outras adaptações que surgem dia após
dia.
Conceito: Excelente
Nota: 10,0