Direção: Edgar Wright
Gênero: Comédia/Terror
Duração: 99 min.
Ano: 2004
Uma obra de humor negro
sofisticado
Que George
Romero é considerado o “pai dos zumbis” no cinema (ele é o responsável pelo
visionário “Night of the Dead”), isto é uma opinião quase unânime entre os
conhecedores do gênero terror. Que os monstros (vampiros, aliens, zumbis,
lobisomens) estão em voga na mídia, mais populares e apelativos que nunca, isto
também não é novidade. Em contrapartida, deixando o gênero de lado e dando uma
olhada superficial sobre as produções de comédia escrachada, constatamos que o
besteirol prevalece em número e em sequências mais que desnecessárias (vide o
fiasco “Todo mundo em pânico”). Parece que, percebendo essas duas tendências –
o terror trash e a comédia escatológica-, Edgar Wright viu o quanto seria
interessante reunir esses temas distintos em uma produção que aproveitasse o
“melhor” que cada um tinha a oferecer sem se tornar involuntariamente ridículo.
O resultado dessa experiência é “Todo
mundo quase morto” (Shawn of the Dead), que, apesar da versão patética do
título em português, alusiva aos filmes da malfadada série “Scary Movie”, é
bastante superior aos besteiróis convencionais. A princípio, “Shawn of the
Dead” parece uma paródia de “Dawn of the Dead” (Madrugada dos Mortos) e até
certo ponto pode ser considerado como tal; entretanto, o filme de Wright não se
restringe a seguir a cartilha batida de piadas forçadas e maçantes satirizando
o filme original. Isso porque Wright, diretor e roteirista, achou conveniente
criar uma história própria, independente, que apenas fizesse referências
genéricas aos filmes de apocalipse zumbi, em especial o mencionado “Madrugada
dos Mortos”, de Zack Snyder.
Em síntese, a história de “Todo mundo
quase morto” é bastante simples e comum: conta a história de Shawn (Simon
Pegg), um sujeito fracassado que leva uma vida medíocre e sem expectativas, a
não ser enfrentar um emprego monótono e tentar reconquistar a namorada. Da
noite para o dia, seguindo o clichê dos filmes de zumbi mais comuns, o mundo se
infesta de mortos-vivos. Com a ajuda – ou, antes, com as trapalhadas - do não
menos fracassado amigo (Nick Frost), Shawn se lança numa jornada de
sobrevivência através da praga dos zumbis, à procura de um lugar seguro,
levando na bagagem a família (mãe e padrasto) e a mulher que ama, mas que
continua fazendo jogo duro devido a decepções que ele lhe causou quando estavam
juntos.
O humor do filme é construído através
das falas e, mais que isso, das atitudes dos personagens ao longo desse trajeto
até o “lugar seguro”, que, no caso, é um bar da pequena cidade onde vivem. Para
um filme de comédia, os personagens são relativamente bem construídos, cada
qual com sua importância, ainda que secundária no contexto da história, não se
limitando ao papel de estereótipo. Há espaço até para a comédia romântica
através das tentativas de Shawn em reaver o amor da ex-namorada.
Naturalmente, não faltam as cenas de
violência, típicas do trash zumbi, e Wright aproveita para transformar a maior
parte dessas cenas em humor negro. Por fim, falando em zumbis, a caracterização
deles é muito interessante, desde o modo hipnótico de andar até a maquiagem.
Geralmente não se pode esperar muito de
filmes de comédia em quesito de interpretações e roteiro, uma vez que sua
função é divertir apenas naquele momento com piadas supérfluas e, por vezes,
apelativas. Assim, nesse cenário batido e canhestro, “Todo mundo quase morto”
configura-se como uma satisfatória exceção, sendo taxado até de comédia cult; de fato, em meio a tanta
produção meia-boca, o filme de Edgar Wright apresenta certa sofisticação.
Conceito: Muito Bom
Nota: 8,0