Depois
de “V de vingança”, James McTeigue apresenta um trabalho que oscila entre o
suspense e o dramalhão. “O Corvo” (The Raven) propõe-se a contar, da forma mais
fantasiosa possível, uma versão dos últimos dias de vida do célebre escritor
americano Edgar Allan Poe, famoso por seus textos sombrios envolvendo crimes,
loucura e morte.
A
premissa é boa e é exatamente nisso que o filme se baseia: nas obras de Poe,
embora de forma bastante simplificada, por assim dizer. Basicamente, um
assassino está se inspirando nas obras de Poe para cometer seus crimes. Este
não é, provavelmente, o primeiro filme a usar um psicopata que se inspira em um
escritor e, com certeza não é o melhor ou mais criativo. Entretanto, se falta
complexidade no roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare, sobra beleza no
visual de época do filme. A fotografia esfumaçada e azulada (ou acinzentada,
dependendo da cena) transmite o frio e certo desconforto, propício para o clima
soturno que o filme deseja proporcionar. Os figurinos também estão impecáveis,
sóbrios e visualmente austeros, bastante condizentes com o tempo em que a
história se passa, isto é, em meados do século XIX.
E,
falando em visual, a violência gráfica deve agradar até mesmo os fãs fervorosos
de “Jogos Mortais” ou demais produções deste estilo, com muito sangue e doses
de horror, claramente visíveis, por exemplo, na cena do pêndulo. A tensão
também está presente nas cenas claustrofóbicas, como a busca da vítima nos
dutos subterrâneos e o sofrimento da mocinha enclausurada em algum lugar
desconhecido, mas que ao final, com uma dica valiosa de “O coração revelador”,
mostra-se bastante óbvio.
O
astro da vez é John Cusack (“2012”), em uma de suas atuações mais caricatas, se
não a maior. Ele interpreta um Poe arrogante, barulhento e verborrágico – um
exemplo claro é a apreciação que ele faz de um poema declamado por uma senhora
obesa. O poema é horrível, de fato, mas a “análise” de Poe é ainda pior, com
ares de charlatanismo. É difícil imaginar que o verdadeiro Poe tenha sido tão
escandaloso e indiscreto... Contudo, como recompensa a quem se sentiu atraído
pelo título do famigerado poema “O Corvo”, há um momento em que Cusack declama
uma pequena – lástima! – parte desse belo texto.
Não
obstante isso, o filme segura as pontas com determinação, a começar por sua
cena inicial, explícita referência a “Os assassinatos da Rua Morgue”. Daí em
diante, temos uma mistura de “Sherlock Holmes” e “Jogos Mortais”: uma investigação
de pistas intencionalmente deixadas pelo assassino, que levam a uma nova
vítima, contendo pistas para a próxima vítima e assim por diante. Além disso,
há o típico elemento surpresa da identidade incógnita do assassino, que somente
é revelada nos instantes finais, como acontece, por exemplo, nos filmes da
cinessérie “Scream”.
No
final das contas, “O Corvo” é um filme que dividirá muito as opiniões do
público: alguns irão curtir, certamente, essa história de perseguição à “gato e
rato”; outros irão considerá-lo inteiramente descartável.Quem é fã de Poe e
busca detalhes sobre sua vida sempre cercada de mistérios, pode se decepcionar,
pois não vai encontrar respostas aqui; pelo menos não respostas reais. É
apenas uma obra regular de pura fantasia e até uns resquícios de dramalhão
romântico, embora com altos níveis de violência (censura de 16 anos), mas é só
isso. Agora, quem busca só um entretenimento sem compromisso, complexidade ou
crítica, certamente vai se deleitar e aproveitar bem as quase duas horas de
projeção... como eu fiz.
Conceito: Bom
Nota: 7,0