O
impossível
Filme espanhol se destaca pelo
realismo e por interpretações precisas
Raramente
aparece no cinema uma obra sobre catástrofes naturais que consiga equilibrar a
emoção dos personagens e a preocupação com os aspectos técnicos, de forma a
proporcionar uma experiência realista e sensível ao espectador. Felizmente, o
novo filme de J. A. Bayona consegue atingir esse objetivo de maneira única e
precisa. “O Impossível” (Lo Imposible) é uma produção que explora a grande
tragédia do tsunami que atingiu o sudeste asiático no final de 2004, e retrata
a devastação trazida pela catástrofe com o máximo de realismo, mas sem usar
isso como pretexto para pecar no roteiro ou direção, como fez Rolland Emmerich
em “2012”, por exemplo.
A
história, anunciada como baseada em fatos reais, foi inspirada no livro
autobiográfico de Maria Belón, uma sobrevivente do famigerado tsunami que, no
momento do desastre estava na Tailândia, em férias com a família. Depois do
tsunami, no qual perde contato com o marido e os filhos (ficando apenas com o
menino mais velho, Lucas), Maria inicia uma jornada verdadeiramente épica para
sobreviver em meio ao caos e reencontrar a família.
O
filme de Bayona acerta em cheio ao retratar o drama da família de Maria e, por
extenso, abordar o desespero de tantas outras famílias que, mesmo separadas por
fatores extremos, lutam para superar os obstáculos e permanecer unidas. Esta é
uma mensagem evidente do filme, transmitida com perfeição pelo elenco e pela
direção, que equilibram drama e sensibilidade de maneira sublime. No elenco, a
bela Naomi Watts é a protagonista, Maria, a mãe dedicada à família, que passa
pelos maiores suplícios, tanto psicológicos – no desespero para encontrar ajuda
- quanto físicos, uma vez que depois do tsunami ela fica bastante ferida, cheia
de hematomas e cortes (destaque para a excelente e nauseante maquiagem de
efeitos). Tão precisas são as expressões faciais de alegria, tristeza, dor,
sofrimento e emoção de Watts que é fácil perceber o motivo pelo qual ela foi
indicada ao Oscar de Melhor Atriz por este papel.
As
demais interpretações também estão impecáveis, com ênfase para o ator mirim Tom
Holland, que vive Lucas, o filho mais velho de Maria; ele é o garoto forte que
se tornará o maior apoio da mãe e não é exagero dizer que ele é a sua salvação.
Outro que dispensa comentários é Ewan McGregor, que interpreta Henry, o marido
de Maria, igualmente desesperado por encontrar a família depois da devastação. McGregor
é um daqueles poucos atores que fazem jus à expressão “falar com os olhos”; ele
transmite o máximo de sinceridade e espontaneidade em suas interpretações e é
realmente impossível não se emocionar com a angústia dele, seu choro e sua
esperança quase quixotesca em reencontrar a família.
A
tragédia em si, o tsunami e a devastação foram extremamente bem elaborados; o
momento da chegada da onda gigante no hotel onde a família de Maria está
hospedada é impactante. É interessante que tudo tenha sido
planejado com realismo nessas cenas de destruição; utilizou-se água “real”, não
o CG ridículo e artificial, como do já mencionado filme de Emmerich. As cenas
que se seguem, em meio à lama, também mostram a habilidade de Bayona em captar
os melhores ângulos de cena, tornando a obra visualmente forte e visceral, sem
perder o bom gosto.
“O
Impossível” é, então, um drama sensível e equilibrado, sem melodrama, mas que
evidentemente foi feito para emocionar. Esse objetivo audacioso é duplamente
alcançado através da história dolorosa de uma tragédia que separou (quando não
destruiu) pessoas e também por meio da representação cativante da importância
da família e da força de vontade do ser humano, sua capacidade de fazer o bem.
Bayona prova com maestria que, a despeito do título do filme, nada é impossível
para o espírito humano.
Conceito: Excelente
Nota: 10,0